quinta-feira, 28 de julho de 2011

Encantos Mil

Agora posso dizer por que o Rio de Janeiro é a cidade maravilhosa, cheia de encantos mil. Encantos que se manifestam ainda no ar, na vista maravilhosa da costa inteira e de um voo que parece aterrissar sobre o oceano.

As ruas um tanto sujas do centro da cidade e os adesivos alertando os ‘bueiros explosivos’ passam quase que despercebidos aos olhos dos turistas, que mais se encantam com a clareza da água do mar em contrate com o amarelo vivo da areia e o verde das plantas selecionadas que formam os jardins aparentemente naturais.

Perigoso? Sei lá. Quando pergunto todos dizem ser seguro, mas a imensa frota de táxis girando constantemente me faz pensar e repensar a resposta, principalmente à noite. Pode ser por comodidade, dizem uns. Sim, também optei por este motivo, razão que me deixava a alma tranquila. Na verdade, tranquila mesmo ficava somente depois de conferir e ter certeza de que não havia adquirido um serviço pirata. Enquanto alguns trabalham honestamente fazendo qualquer coisa para ganhar um trocado, desde encantar o público com pequenas mágicas nas ruas, outros se aproveitam da ignorância dos que chegam de longe. 

E se a contradição das belezas é grande, já que do Cristo e do Pão de Açúcar pode-se identificar os morros, complexos e favelas, imensa é também a presença de não cariocas. A terra dos esses espichados deve esconder seu povo atrás das lajes, pois o que mais se vê, e ouve, são línguas indecifráveis.

De qualquer forma, é inegável dizer que o Rio apaixona e se insere rapidamente dentro do coração. Mas, ei, digo isso da parte da cidade que dá prazer de olhar, aquela em que os famosos circulam durante o dia, e que é cenário de novela. Aquela em que você consegue sentar e conversar com o Carlos Drummond de Andrade.

Pena que não é essa a realidade da maior parte dos ‘donos’ daquela terra maravilhosa.   

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Algumas descobertas

A cadeira que compunha o espaço do quarto estava lotada de roupas sujas. Por cima da mistura do inverno e verão dos casacos pesados e as camisetas leves ainda se podia ver um aglomerado de sacolas e tralhas. O assento só não chamava mais atenção do que a prateleira de livros, coberta de folhas e pastas amassadas por todos os quantos.

No chão, as bolsas e travesseiros invadiam o marfim da madeira. As cobertas ainda estavam jogadas sobre a cama. A janela permanecia fechada, como num quarto escuro de uma prisão, onde os raios de sol são proibidos de entrar. O vento gelado e úmido que perpassava as frestas de madeira completava o cenário sombrio.

Dona Dina não era velha. Embora aparentasse uns 50, até hoje a discussão sempre beira os 35. Senhora de postura elegante, ela brincava com as crianças que passavam pela rua, cumprimentava os idosos e despejava uma esmola aqui e acolá.

A vizinhança sempre murmurava que a solteirona tivera uma filha e a abandonara num cesto de lixo. A menina sumira e a velha se trancara dentro de casa, vivendo eternamente com remorso. A criança jamais aparecera e, num dia comum, a Dona Dina fora encontrada morta dentro de casa.

A caixa do lixo era a única coisa que permanecia vazia no quarto. Dentro dela havia somente uma foto. Era bebê ainda, o que permitia questionamentos.

Impossível não reconhecer o próprio rosto. 

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Separação

No caminho para casa os olhos começaram a dar sinais de água. Era impossível conter as lágrimas que teimavam se formar a cada instante. Elas eram um misto de felicidade, emoção, surpresa, e quiçá dor. Aquele sofrimento aumentava as batidas do coração só de pensar na separação.

Que fazer longe daqueles que se ama quando jogar tudo dentro de uma mala já não é mais possível? O plano tinha falhado. O objetivo era não pensar, manter a cabeça reta e olhar sempre para frente. Pena que esqueci de colocar no papel onde o sentimento atuaria.

E claro que deu errado. Ele não tinha uma meta traçada, então foi se intrometendo até causar estrago. Destruição das boas, daquelas que deixam marcas para sempre. Elas partem comigo agora e podem ter certeza que nunca me deixarão. Resta agradecer por tudo.