quarta-feira, 19 de março de 2014

Como eu me sinto quando...

Lembrança de um desconhecido de Pittsburg, Kansas

A última pergunta que ouvi quando o assunto de minha mudança começou a se espalhar foi de que signo eu era. Sou capricorniana, descrita pela astrologia como uma pessoa presa às próprias tradições, sincera, serena e lutadora. Dizem ainda que meus passos são completamente calculados e que mudanças não agradam. O principal obstáculo: adaptar-se aos contrastes do mundo e enfrentar os desafios de maneira mais leve e descontraída. 

Foi de certa forma pertinente a questão, visto que estou há apenas um mês trabalhando no novo emprego. Resolvi dar atenção ao signo, mas não me convenci. Concordo com algumas características e tenho certeza de que minha família e amigos concordariam até mais do que eu. Porém, quando a descrição se encaminhou para os passos calculados, uma leve vontade de dar risada tomou conta de mim. Posso até calcular os meus passos, mas somente se este cálculo puder ser feito milésimos de segundos antes de meu pé encostar no chão. 

Já fui mais planejadora, sonhadora, calculista. Embora soe clichê, a vida, de fato, me mostrou que andar com os pés no chão não tem sentido algum. Lembro exatamente de quando comecei a pensar assim, poucos dias antes de completar 18 anos. Foi o pensamento mais libertador. 

Voltando ao signo, talvez alguns acontecimentos me marcaram tanto a ponto de me possibilitar curtir mudanças e encarar elas como um desafio. Costumo dizer que desafios me movem e me fazem sentir viva. As mudanças sempre agitam, é inevitável, mas acredito muito que a adaptação é mais leve quando o comodismo ainda não conseguiu nos prender. 

Resolvi utilizar como título desta postagem o endereço de um tumblr, que expõe de forma humorística nossa reação ou comportamento diante de determinado acontecimento. Fiquei imaginando como me sinto quando mudanças repentinas acontecem, quando preciso me mudar, quando vou ficar mais longe de minha família e amigos, quando o tempo e o espaço são limitadores, quando preciso recomeçar do zero. 

Enfim, fiquei pensando como me sinto agora.

Todas as mudanças são diferentes e carregam consigo suas particularidades. Lembro de quando fui morar com uma host family em Malta e da aventura de fazer uma tour pela Europa. Tinha recém completado 18 anos. Não foi suficiente. Cerca de três anos depois, precisei conseguir uma bolsa de estudos para morar um semestre nos Estados Unidos. Desafiador. Acredito que está seja a forma mais completa e singela de descrever minha experiência de morar no interior do Kansas. E voltar para o Brasil sem conhecer pelo menos uma parte do país nunca esteve nos meus planos. Sai de Pittsburg para conhecer cidades americanas encantadoras, como New York, Boston, San Francisco, Las Vegas, Philadelphia, Washington DC, Hollywood, Santa Mônica. 

Depois de quase dois anos morando em Caxias do Sul, eis que surge a oportunidade de uma nova mudança. Ir para longe, não tanto quanto das últimas vezes, mas da mesma forma - desafiador. Trocar de cidade, de clima, de rotina, de amigos, de trabalho.
  
Pensando melhor, até que a descrição do signo faz sentido. Tenho certa dificuldade em me adaptar aos locais. Tamanha é essa dificuldade que mudanças vêm sendo frequentes na minha vida, mudanças que enchem minha alma de esperança para começar e recomeçar de novo.

Poderia encarar esses desafios de forma mais leve, mas prefiro vivê-los intensamente.            

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Por que o mundo existe?

Café de Flore, 6º arrondissement, Paris. Crédito: Dennis Stock

O nada seria simplesmente mais simples. Mas aí o mundo existe, cheio de fórmulas, mistérios, regras, problemas e soluções. Por quê? Por que não existir apenas o nada?

Essa é a pergunta que cerca o livro Por que o mundo existe?, de Jim Holt

Iniciei a leitura um tanto descrente com o que haveria de novo e de realmente interessante no livro. Confesso que demorei a entender as fórmulas matemáticas que tomam o x como elemento base. Por um momento, pensei em desistir. "Não estava agregando", avaliei.

Hoje, porém, num processo de protelar outras atividades, acabei mergulhando no espírito da leitura. Quando Holt está no banco traseiro do carro em meio a um pesado tráfego, pensa que não quer sair deste mundo para o nada. 

Pela primeira vez nas quase cem páginas do livro sua fala começou a me tocar. Embora não compartilhe de seu ateísmo, passei a pensar que talvez o nada exista realmente. Não da mesma forma que Holt luta para comprovar -- cientificamente -- mas talvez um nada existencial.

Da mesma forma que não me recordo de nada antes de vir a esse mundo, posso simplesmente evaporar para o nada eterno. Não consigo imaginar o paraíso perfeito, embora prefira acreditar que ele existe. 

Talvez Jim Holt possa me ajudar a entender o porquê tamanha dificuldade para acreditar em algo que nunca vimos ou tocamos. Ou pode ser a chave para bagunçar ainda mais minha mente confusa. 

Espero ansiosa as próximas páginas.  

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Insônia

Porque a insônia é uma visita não convidada, que perturba as noites e deixa sonolento o tempo convencionalmente tido para não dormir. Inverte-se a ordem, explica-se de um jeito estranho, ou poder-se-ia dizer -- intruso; a bagunça toma conta do texto, exatamente insônia.  

E além de provocar tamanha dificuldade, provoca sim uma reviravolta. Gira de um lado para o outro e nada de pregar o olho. Quem sabe dar uma olhada em fotos antigas? Pronto! Causou-se a pior das reviravoltas. 

Daqui a pouco, um bocejo. Opa! Um aviso que a solução para o problema pode estar logo aí. As palavras começam a ficar curtas e o desejo é de poder hibernar, sem prazo para despertar, para despertador. 

Rotina. Penso como a rotina poderia ser uma facilitadora nessas horas. O tanto que a evito,  que a odeio; o tanto que a quero, que a desejo. As asas que surgem com a liberdade de criar seu próprio tempo são rapidamente esmagadas pela insônia. 

O que para muitos pode ser a representatividade de dormir terna e prazerosamente, aqui soma-se às dificuldades: a chuva. Aquela água que molha a janela e vai escorrendo tão lentamente faz a mente perseguir seu rastro. 

Prefiro retirar-me com o vento.