sexta-feira, 28 de junho de 2013

A simpatia das rosas


O sustento de muitas famílias depende da comercialização em semáforos. Vendedor de rosas, Moroni vê nas flores também a esperança da realização de um sonho – ser médico.

Moroni trabalha nos semáforos vendendo rosas há 15 anos 

O sinal fecha e logo o motorista é bombardeado de informação. Uns fazem espetáculo, outros entregam panfletos, alguns pedem esmolas, vendem mercadorias. Por trás de cada material adquirido, seja ele físico ou não, há um ser humano, cheio de ideais e sentimentos. A rotina, muitas vezes, tenta esconder essa faceta, mas alguns, com seu jeito simpático, não permitem que isso aconteça.

Por volta das 9h30, ele chega com maços de rosas e se instala na calçada da Rua Sinimbu, próximo à esquina com a Rua Cel. Flores, no bairro São Pelegrino, em Caxias do Sul. Quem costuma passar pelo local, certamente já viu Diego Moroni, 28 anos, vendendo flores no semáforo.

Rolando os embrulhos de um lado para o outro, ele muitas vezes nem abre a boca para oferecer a mercadoria. Com um olhar e um sorriso no rosto, ergue o braço, mostra o produto e espera atencioso que um vidro se abra. Quando ignorado ou alertado sobre o desinteresse, segue adiante e aborda outro motorista.

Moroni está há pouco mais de 15 anos trabalhando como vendedor de rosas e garante que iniciou por brincadeira. Ele conta que, ainda com 12 anos, enquanto observava os outros, acreditava ser um trabalho legal e queria experimentar.  “Eu comecei andando pelas ruas e pedindo, um por um, com quem eles arranjavam as rosas. Então eu consegui um fornecedor e comecei a vender”, lembra.

A diversão virou negócio. Hoje, Moroni recebe comissão por mercadoria vendida. Fazendo as contas de cabeça, ele afirma negociar entre 30 e 40 ramalhetes por dia, o que gera uma renda mensal de aproximadamente R$ 1.500,00. Para isso, ele também conta com os fregueses. Moroni diz ter uma base de 700 clientes que o procuram aleatoriamente em busca de flores.

A garantia das vendas, segundo ele, existe por causa da simpatia e da boa trova. “Eu tento convencer as pessoas de que elas farão um bom negócio. Se for mulher, eu digo que as rosas vão enfeitar a casa, se for homem que ele pode presentear a namorada/esposa”, revela.

Moroni tem, porém, outra ligação com a rua. Sua simpatia faz com que as pessoas que circulam pelo local com frequência não sintam vergonha em baixar o vidro do caro e puxar assunto com o vendedor. A conversa é curta, dura o tempo em que o semáforo permanecer fechado. O assunto varia, mas geralmente acaba sendo guiado para um único caminho, o futebol. Embora vista camisas de clubes diversos, Moroni é gremista e sabe que quando o time não for bem, os colorados se manifestam. “Quando o time deles perde, eles passam por aqui e fingem que nem estou”, brinca.

Além de conquistar clientes e amigos, o vendedor apela, com o olhar, para a compaixão. Em seguida, com um sorriso, Moroni junta as moedas que recebeu de um motorista e coloca no bolso da calça. Ele diz sempre conseguir um adicional com as esmolas que arrecada, valor que gira em torno de R$30 por dia. “Eu nunca perguntei por esmola, mas as pessoas passam por aqui, abrem o vidro do carro e me entregam”, conta, feliz.

Com ensino médio completo, o vendedor de rosas já buscou outras oportunidades na cidade, mas nenhum emprego durou muito tempo. “Eu trabalhava com contrato nesses outros serviços. Quando ele vencia, meus chefes não queriam renovar e eu precisava buscar outro trabalho”, explica.

Moroni resolveu então voltar para o mercado das rosas, pois lhe garantia uma segurança maior e um salário melhor. Ele assegura que o motivo que o faz continuar na rua é o fato de poder alegrar as pessoas que passam por ali. “Eu sou o mais simpático da cidade”, brinca o pouco modesto vendedor de rosas.  

O sonho de trocar de profissão, porém, ainda existe. Moroni diz que desde criança queria ser médico e ainda acredita que possa realizar esse desejo. “Eu estou guardando dinheiro para isso”, acrescenta. Ele imagina seus próximos oito anos estudando medicina e atuando como vendedor de rosas para garantia de seu sustento.  No futuro, ele pretende exercer a profissão de médico, especialmente para ajudar os outros. “Eu quero curar os doentes”, finaliza.  

domingo, 16 de junho de 2013

Os táxis de Caxias do Sul



Há tempos venho reclamando sobre os táxis em Caxias do Sul. Além de considerar a tarifa cara, já me deparei inúmeras vezes com situações um pouco incômodas. Uma delas é comum não somente aqui na serra. Os taxistas escolhem os caminhos mais longos para garantir um lucro maior, e parece acreditarem que o usuário não percebe.


Outro fato interessante, pelo menos é o que acontece comigo, é constatar que taxista algum sai para uma corrida que lhe renda menos do que R$10,00. Engraçado é morar bem próximo ao local em que você deseja ir e precisar fazer o percurso inteiro andando a 40km/h para o valor atingir o mínimo de R$10,00. Até já vi motorista preferindo o “beco” à BR-116 para tornar o caminho mais longo.



O mais revoltante, porém, e inadmissível, aconteceu esse fim de semana. Liguei para a rádio táxi e a mulher me garantiu que em cinco, no máximo 10 minutos, um táxi estaria em frente a minha casa. Passados 10 minutos, eu e meus amigos resolvemos descer, pois já estávamos atrasados para um compromisso. Depois de meia hora esperando no frio, resolvi ligar para a central novamente e reclamar do serviço. A atendente me informou que um motorista havia pego minha chamada 25 minutos atrás. Esperei mais cinco minutos e nada.


Cansados e uma hora atrasados, a solução foi ir de carro e ter o motorista da rodada. 


Liguei novamente. Não que a vontade de fazer o motorista chegar até minha casa e não encontrar ninguém não existisse, longe disso, mas pensei em ser educada e avisar que não precisaria mais do táxi. Ninguém atendeu. 

Depois de duas tentativas frustradas, pensei que fosse melhor desistir de uma vez. 

sábado, 8 de junho de 2013

A certeza da impunidade

Recordo-me de uma entrevista que fiz, certa vez, com um metalúrgico de quase 30 anos. Na ocasião, ele lembrava de um acidente que havia sofrido há cerca de oito anos. Atropelado na beira da estrada, enquanto trocava o pneu do carro, ele passou algum tempo em recuperação e precisou ter uma das pernas amputadas. O responsável pelo acidente nunca pagou pena alguma pelos danos.

Para o metalúrgico, tamanha violência no trânsito só ocorre pela certeza da impunidade.

Hoje, quando vi nos jornais que mais uma pessoa havia sido queimada em uma tentativa de assalto, questionei-me novamente sobre a certeza da impunidade.

É difícil pensar em razões que levem seres humanos a agir de maneira tão brutal e desumana. Ao mesmo tempo, porém, é visível o fato de que situações como essas acontecem e voltam a se repetir porque o preço que se paga pelos danos causados é baixo; muitas vezes nulo.

A impunidade fomenta a violência, na medida em que abre brechas para o homem se testar e provar suas potencialidades, sejam elas as mais variadas possíveis. 

É preciso um sistema muito mais rígido, muito mais eficaz, para que atos tão banais sejam barrados e para que vidas não sejam perdidas a custo de nada.