quinta-feira, 14 de julho de 2011

Algumas descobertas

A cadeira que compunha o espaço do quarto estava lotada de roupas sujas. Por cima da mistura do inverno e verão dos casacos pesados e as camisetas leves ainda se podia ver um aglomerado de sacolas e tralhas. O assento só não chamava mais atenção do que a prateleira de livros, coberta de folhas e pastas amassadas por todos os quantos.

No chão, as bolsas e travesseiros invadiam o marfim da madeira. As cobertas ainda estavam jogadas sobre a cama. A janela permanecia fechada, como num quarto escuro de uma prisão, onde os raios de sol são proibidos de entrar. O vento gelado e úmido que perpassava as frestas de madeira completava o cenário sombrio.

Dona Dina não era velha. Embora aparentasse uns 50, até hoje a discussão sempre beira os 35. Senhora de postura elegante, ela brincava com as crianças que passavam pela rua, cumprimentava os idosos e despejava uma esmola aqui e acolá.

A vizinhança sempre murmurava que a solteirona tivera uma filha e a abandonara num cesto de lixo. A menina sumira e a velha se trancara dentro de casa, vivendo eternamente com remorso. A criança jamais aparecera e, num dia comum, a Dona Dina fora encontrada morta dentro de casa.

A caixa do lixo era a única coisa que permanecia vazia no quarto. Dentro dela havia somente uma foto. Era bebê ainda, o que permitia questionamentos.

Impossível não reconhecer o próprio rosto. 

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