quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Um gesto de generosidade


Há momentos em que a vida prega situações um tanto inusitadas.

Dia desses, depois  do expediente de trabalho, às 21h, seguia no ônibus mergulhada em minha leitura quando ouvi uma discussão.

Junto a um aglomerado de outras pessoas, um casal entrou na fila para passar pela catraca. A moça, com cartão de estudante, passou primeiro. O rapaz veio logo na sequência e já com o mesmo cartão em mãos arriscou passar também. Foi então que a cobradora, sem medir muito as palavras e o tom de voz, coibiu a tentativa. 

Com a discussão, todos os passageiros puderam entender o que estava acontecendo. O jovem, um tanto revoltado, retrucou dizendo que não tinha conhecimento sobre a regra de que o cartão de estudante é individual. Disse ainda não carregar dinheiro algum para pagar a passagem. Ele se dirigiu à porta e, ao ameaçar tocar a campainha, pude ouvir um senhor  chamando-o. 

O homem, já com alguns trocados contados sobre a palma da mão, ergueu-se e entregou o dinheiro ao rapaz. 

O jovem, de cabeça baixa e mochila nas costas, pagou a passagem e passou pelo corredor, sentou-se próximo à saída, junto à garota que o acompanhava. Em poucos segundos, ele se levantou e caminhou até o senhor que havia pago a passagem. Com o troco contado, ele disse ao homem que a garota tinha dinheiro na bolsa, embora no momento anterior tivesse esquecido, e devolveu-lhe o valor da passagem.

Não sei se foi uma tentativa frustrada dos jovens economizaram dinheiro utilizando passagens de estudante ou se a jovem realmente pensou não ter dinheiro na bolsa. Sei que a atitude daquele senhor foi tão nobre e enriquecedora que encheu minha alma de esperança. 


Confesso que quando gestos como esses acontecem, minha crença na humanidade se intensifica. 


Tenho muito a aprender ainda. 

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Buracos na RS-122

Péssimas condições da rodovia causam danos financeiros 


Há quem defenda que os governantes não podem estar em todos os lugares para evitar os acidentes de trânsito. Pois bem, eles poderiam, no mínimo, diminuir o perigo que as estradas oferecem. O pagamento de impostos só revolta porque em troca recebemos serviços de péssima qualidade, como estradas cheias de buracos e que pioram a cada chuva. 

O resultado de trafegar no domingo pela RS-122, no trecho que liga Flores da Cunha a Caxias do Sul, foi um pneu furado. No fim, preciso agradecer por não ter sido algo pior. 

domingo, 15 de setembro de 2013

O trânsito e suas peculiaridades


Sou daquelas pessoas a quem acidentes de trânsito ainda causam um impacto imenso. Embora eles levem vidas as quais muitas vezes não conheço, me pego imaginando a dor e o sofrimento que aqueles segundos causam em tanta gente. Vidas que acabam “antes” do tempo, famílias que perdem seus alicerces mais cedo. 

Também penso que campanhas publicitárias, por mais chocantes que sejam, dificilmente serão a solução. E seria a sinalização e as melhores condições de estradas? Talvez aderir à maioridade de 21 anos, como fizeram os Estados Unidos, fazendo com que seus jovens só saíssem de casa para as festas mais tarde, quando a responsabilidade fosse, quem sabe, um pouco maior.


Não me parece, porém, que a noite e a bebida alcoólica sejam o único problema.


Sou mais pedestre do que motorista e já vi muito motorista apressado desrespeitando semáforos e faixa de pedestres. É como se passar o sinal logo que ficou vermelho não causasse prejuízo a ninguém. Aí o motorista encontra o pedestre atravessando na faixa de segurança e buzina indignado, como se tivesse toda a razão.

Por outro lado, há alguns pedestres, e ciclistas, que por sinal aumentaram seu número consideravelmente, que também não sabem respeitar os sinais de trânsito.

Hoje pela manhã, domingo, eu dirigia pela Avenida Rubem Bento Alves (Perimetral Norte), sentido Pavilhões da Festa da Uva – Ana Rech. Há, naquele trecho, uma ciclofaixa que funciona somente aos domingos.

Pouco depois do trecho em que a ciclofaixa termina, no mesmo local em que neste mês duas crianças foram atropeladas e mortas, havia um ciclista pedalando. Se a ciclovia já é perigosa, imagine o acesso, pois fica no meio da Perimetral e as pessoas precisam ir até lá de algum jeito, muitas caminhando ou pedalando.

Aquele ciclista, no meio da via, poderia ter causado um acidente. 

O que me pergunto, depois de vivenciar cenas como essas, é se as melhorias de sinalização realizadas no local evitariam um acidente. Não. E mais, do que adianta ter uma ciclofaixa perdida no meio da cidade se nem acesso há? Do que adianta melhorar a sinalização?

Sou um pouco negativa. Não acredito que o trânsito tenha uma solução plausível, mas acredito que poderíamos reduzir o número de tragédias por meio de ações conscientes. Evitar o que é perigoso seria uma delas. Sou a favor das campanhas que incentivam o uso de bicicletas, contanto que sejam seguras. 

Lugar de ciclista não é no meio de carros, do trânsito caótico de motoristas que antes de sinalizar com a seta pensam em acionar a buzina.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Luta pelo reconhecimento


Pessoas com deficiência enfrentam dificuldades quando o assunto é acessibilidade. O problema concentra-se na falta de infraestrutura adequada e na aceitação social

Clique e confira a reportagem em vídeo com Ana Júlia, realizada em 2012 pela UCSTV

Dados divulgados pelo Censo 2010 mostram que, no Brasil, 45,6 milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência. Janete Clotilde Bandeira é mãe de Ana Júlia, 6 anos, deficiente em função de má formação da coluna vertebral.

Esse ano, Janete conseguiu transporte especial para buscar e levar a filha à escola, mas acredita que melhorias são necessárias. “Não há monitores no colégio que possam tomar conta da Ana Júlia. Assim, ao invés de usar as muletas, ela precisa ficar na cadeira de rodas. Também não existe fraldário, então preciso colocar uma fralda que dure a tarde inteira”, conta.

Para a presidente do Conselho Municipal dos Direitos das Pessoas com Deficiência, Cassandra Gomes Ramos, o problema da acessibilidade está diretamente ligado à infraestrutura oferecida pela cidade, que carece de adequações, e à igualdade social. “Além das questões estruturais, é importante encarar o deficiente com naturalidade e saber valorizar o seu potencial”, diz Cassandra, que também é cadeirante.

O cientista social Flávio Marcelo Busnello explica que a sociedade não sabe lidar com aqueles que fogem do padrão de normalidade. “Olhamos para eles com indiferença, com medo, achando graça. Eles são foco de piada, violência, desrespeito ou da mais fria e profunda invisibilidade”.

A busca do deficiente é por uma acessibilidade que lhe permita não somente subir e descer calçadas, utilizar o transporte público e ir à escola, mas que possibilite também o respeito de forma igualitária e a aceitação do mercado de trabalho. A luta é por valores básicos: ser visto e reconhecido.

* A reportagem escrita foi atualizada em junho de 2013 e foi finalista do concurso Primeira Pauta, do jornal Zero Hora.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

A simpatia das rosas


O sustento de muitas famílias depende da comercialização em semáforos. Vendedor de rosas, Moroni vê nas flores também a esperança da realização de um sonho – ser médico.

Moroni trabalha nos semáforos vendendo rosas há 15 anos 

O sinal fecha e logo o motorista é bombardeado de informação. Uns fazem espetáculo, outros entregam panfletos, alguns pedem esmolas, vendem mercadorias. Por trás de cada material adquirido, seja ele físico ou não, há um ser humano, cheio de ideais e sentimentos. A rotina, muitas vezes, tenta esconder essa faceta, mas alguns, com seu jeito simpático, não permitem que isso aconteça.

Por volta das 9h30, ele chega com maços de rosas e se instala na calçada da Rua Sinimbu, próximo à esquina com a Rua Cel. Flores, no bairro São Pelegrino, em Caxias do Sul. Quem costuma passar pelo local, certamente já viu Diego Moroni, 28 anos, vendendo flores no semáforo.

Rolando os embrulhos de um lado para o outro, ele muitas vezes nem abre a boca para oferecer a mercadoria. Com um olhar e um sorriso no rosto, ergue o braço, mostra o produto e espera atencioso que um vidro se abra. Quando ignorado ou alertado sobre o desinteresse, segue adiante e aborda outro motorista.

Moroni está há pouco mais de 15 anos trabalhando como vendedor de rosas e garante que iniciou por brincadeira. Ele conta que, ainda com 12 anos, enquanto observava os outros, acreditava ser um trabalho legal e queria experimentar.  “Eu comecei andando pelas ruas e pedindo, um por um, com quem eles arranjavam as rosas. Então eu consegui um fornecedor e comecei a vender”, lembra.

A diversão virou negócio. Hoje, Moroni recebe comissão por mercadoria vendida. Fazendo as contas de cabeça, ele afirma negociar entre 30 e 40 ramalhetes por dia, o que gera uma renda mensal de aproximadamente R$ 1.500,00. Para isso, ele também conta com os fregueses. Moroni diz ter uma base de 700 clientes que o procuram aleatoriamente em busca de flores.

A garantia das vendas, segundo ele, existe por causa da simpatia e da boa trova. “Eu tento convencer as pessoas de que elas farão um bom negócio. Se for mulher, eu digo que as rosas vão enfeitar a casa, se for homem que ele pode presentear a namorada/esposa”, revela.

Moroni tem, porém, outra ligação com a rua. Sua simpatia faz com que as pessoas que circulam pelo local com frequência não sintam vergonha em baixar o vidro do caro e puxar assunto com o vendedor. A conversa é curta, dura o tempo em que o semáforo permanecer fechado. O assunto varia, mas geralmente acaba sendo guiado para um único caminho, o futebol. Embora vista camisas de clubes diversos, Moroni é gremista e sabe que quando o time não for bem, os colorados se manifestam. “Quando o time deles perde, eles passam por aqui e fingem que nem estou”, brinca.

Além de conquistar clientes e amigos, o vendedor apela, com o olhar, para a compaixão. Em seguida, com um sorriso, Moroni junta as moedas que recebeu de um motorista e coloca no bolso da calça. Ele diz sempre conseguir um adicional com as esmolas que arrecada, valor que gira em torno de R$30 por dia. “Eu nunca perguntei por esmola, mas as pessoas passam por aqui, abrem o vidro do carro e me entregam”, conta, feliz.

Com ensino médio completo, o vendedor de rosas já buscou outras oportunidades na cidade, mas nenhum emprego durou muito tempo. “Eu trabalhava com contrato nesses outros serviços. Quando ele vencia, meus chefes não queriam renovar e eu precisava buscar outro trabalho”, explica.

Moroni resolveu então voltar para o mercado das rosas, pois lhe garantia uma segurança maior e um salário melhor. Ele assegura que o motivo que o faz continuar na rua é o fato de poder alegrar as pessoas que passam por ali. “Eu sou o mais simpático da cidade”, brinca o pouco modesto vendedor de rosas.  

O sonho de trocar de profissão, porém, ainda existe. Moroni diz que desde criança queria ser médico e ainda acredita que possa realizar esse desejo. “Eu estou guardando dinheiro para isso”, acrescenta. Ele imagina seus próximos oito anos estudando medicina e atuando como vendedor de rosas para garantia de seu sustento.  No futuro, ele pretende exercer a profissão de médico, especialmente para ajudar os outros. “Eu quero curar os doentes”, finaliza.