O
sustento de muitas famílias depende da comercialização em semáforos. Vendedor
de rosas, Moroni vê nas flores também a esperança da realização de um sonho –
ser médico.
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Moroni trabalha nos semáforos vendendo rosas há 15 anos |
O sinal fecha e logo o motorista é bombardeado de
informação. Uns fazem espetáculo, outros entregam panfletos, alguns pedem
esmolas, vendem mercadorias. Por trás de cada material adquirido, seja ele físico
ou não, há um ser humano, cheio de ideais e sentimentos. A rotina, muitas
vezes, tenta esconder essa faceta, mas alguns, com seu jeito simpático, não
permitem que isso aconteça.
Por
volta das 9h30, ele chega com maços de rosas e se instala na calçada da Rua
Sinimbu, próximo à esquina com a Rua Cel. Flores, no bairro São Pelegrino, em
Caxias do Sul. Quem costuma passar pelo local, certamente já viu Diego Moroni, 28 anos, vendendo flores no semáforo.
Rolando os embrulhos de um lado para o outro, ele
muitas vezes nem abre a boca para oferecer a mercadoria. Com um olhar e um
sorriso no rosto, ergue o braço, mostra o produto e espera atencioso que um
vidro se abra. Quando ignorado ou alertado sobre o desinteresse, segue adiante
e aborda outro motorista.
Moroni está há pouco mais de 15 anos trabalhando como
vendedor de rosas e garante que iniciou por brincadeira. Ele conta que, ainda
com 12 anos, enquanto observava os outros, acreditava ser um trabalho legal e
queria experimentar. “Eu comecei andando
pelas ruas e pedindo, um por um, com quem eles arranjavam as rosas. Então eu
consegui um fornecedor e comecei a vender”, lembra.
A diversão virou negócio. Hoje, Moroni recebe comissão
por mercadoria vendida. Fazendo as contas de cabeça, ele afirma negociar entre
30 e 40 ramalhetes por dia, o que gera uma renda mensal de aproximadamente R$
1.500,00. Para isso, ele também conta com os fregueses. Moroni diz ter uma base
de 700 clientes que o procuram aleatoriamente em busca de flores.
A garantia das vendas, segundo ele, existe por causa da
simpatia e da boa trova. “Eu tento convencer as pessoas de que elas farão um
bom negócio. Se for mulher, eu digo que as rosas vão enfeitar a casa, se for
homem que ele pode presentear a namorada/esposa”, revela.
Moroni tem, porém, outra ligação com a rua. Sua
simpatia faz com que as pessoas que circulam pelo local com frequência não
sintam vergonha em baixar o vidro do caro e puxar assunto com o vendedor. A
conversa é curta, dura o tempo em que o semáforo permanecer fechado. O assunto
varia, mas geralmente acaba sendo guiado para um único caminho, o futebol. Embora
vista camisas de clubes diversos, Moroni é gremista e sabe que quando o time
não for bem, os colorados se manifestam. “Quando o time deles perde, eles
passam por aqui e fingem que nem estou”, brinca.
Além de conquistar clientes e amigos, o vendedor
apela, com o olhar, para a compaixão. Em seguida, com um sorriso, Moroni junta
as moedas que recebeu de um motorista e coloca no bolso da calça. Ele diz sempre
conseguir um adicional com as esmolas que arrecada, valor que gira em torno de
R$30 por dia. “Eu nunca perguntei por esmola, mas as pessoas passam por aqui,
abrem o vidro do carro e me entregam”, conta, feliz.
Com ensino médio completo, o vendedor de rosas já
buscou outras oportunidades na cidade, mas nenhum emprego durou muito tempo.
“Eu trabalhava com contrato nesses outros serviços. Quando ele vencia, meus
chefes não queriam renovar e eu precisava buscar outro trabalho”, explica.
Moroni resolveu então voltar para o mercado das rosas,
pois lhe garantia uma segurança maior e um salário melhor. Ele assegura que o motivo
que o faz continuar na rua é o fato de poder alegrar as pessoas que passam por
ali. “Eu sou o mais simpático da cidade”, brinca o pouco modesto vendedor de
rosas.
O sonho de trocar de profissão, porém, ainda existe.
Moroni diz que desde criança queria ser médico e ainda acredita que possa
realizar esse desejo. “Eu estou guardando dinheiro para isso”, acrescenta. Ele
imagina seus próximos oito anos estudando medicina e atuando como vendedor de
rosas para garantia de seu sustento. No
futuro, ele pretende exercer a profissão de médico, especialmente para ajudar
os outros. “Eu quero curar os doentes”, finaliza.