Pensei em fazer algo para não me repetir. Dia chuvoso, céu escuro, clima de serra gaúcha. Abri a janela do quarto e pude sentir aquele vento frio tocando minha pele. Não era inverno ainda, mas bem que podia ser. Por entre as portas do guarda-roupas fizgava com o olhar aquilo que iria me aquecer durante o dia. Difícil, ou melhor, cruel decisão a de escolher a roupa que se vai vestir, ainda mais para uma mulher.
O tempo gelado lembrava cores neutras. Imaginava um morron escuro ou preto, básico. Não foi o que acabei decidindo no final. E a pior decisão na verdade não se concentrava bem no vestuário. Qual seria o humor do dia? Estaria de cara fechada ou alegre? Já sei. Vai dizer que por que escolhi cores mais vivas o dia também vai ser mais feliz? Bobagem.
Os tons mesclavam entre rosa e azul. Azul da calça jeans, básica. E o que o rosa influenciaria no meu dia? Era só tropeçar no primeiro degrau do ônibus que meu dia inteiro teria ido para o lixo.
Nunca liguei muito para essas coisas de cores influenciarem ou não nossa motivação. Depois de certo tempo me dei conta de que inúmeras vezes nos deixamos levar por outras coisas bem menos perceptíveis.
Coisas? Que coisas? Aquelas que fizemos todos os dias quando acordamos. Aquele abrir de janela pronto para receber qualquer vibração e transformá-la na melhor possível. Aquele jesto simples frente a problemas enormes. Aquela atitude, sabe? Aquela que na maior parte das vezes ignoramos? Aquela de olhar o mundo com nossos olhos e de respeitar nossas próprias capacidades e as dos outros.
Nós escolhemos nosso dia. Nós escolhemos ser, ou não ser.
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