segunda-feira, 7 de março de 2011

Um dia de saudade

   Não sabia dizer exatamente o que sentia. A mesa estava repleta de trabalho. Muitos livros me esperavam. Tinha saudade daquele tempo de menino, em que uma única ideia enchia minha cabeça: jogar bola. Que garoto não sonha com isso? Aposto que a maioria.

   Ao longo do tempo meu sonho tinha se tornado outro. A sala em que escrevo era um de meus desejos. Um lugar só para mim. É silenciosa, cinza, como deve ser uma sala de trabalho, ao menos era assim que eu sempre a imaginava. Nos dias de chuva, podia ouvir o barulho do vento e os pingos batendo com força contra as vidraças.

   Meu filho também queria ser jogador de futebol. Nunca lhe dei uma bola, desejo devasso que poderia suicidar uma boa parte de sua vida. Minha mulher me culpa até hoje por isso. Mas eu sabia que ele não seria. Ele não tinha jeito, sabe, não tinha estilo para aquilo. Ele tinha cara mesmo era de empresário, ou médico.

   Ele se foi. Ele e a minha mulher também. Nunca acreditei nos seus desejos. Nunca incentivei seus sonhos. Sofri tanto com minhas imaginações que só queria evitar o pior para eles. Mas ela não entendia. Não entendia o porquê daquele ser tão egoísta, tão dono de si, tão controlador.

   Sinto falta deles. Jamais pensei que diria isso, mas sinto. Sinto uma dor forte aqui dentro toda vez que deles me recordo. Penso que poderia ter sido diferente. Hoje ela trabalha em turno integral. Ele está estudando sei lá o quê. Nunca mais vieram me visitar. Nem cartas, e-mails, nada. Eu também nunca fui.

   Permaneço na solidão. Espero o dia de sentir falta de, de sentir saudade de. Paro por um tempo, não mais do que cinco minutos. Paro para pensar em tudo que podia ter sido feito. Uso sempre a mesma forma verbal, aquela que une o passado ao futuro. Sinto que estou cada vez mais perto do abismo que via em meus sonhos e que a morte do tempo que tentei com tanto esforço evitar em meu filho agora me atinge em cheio.

   Um dia de saudade. 

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