sexta-feira, 1 de abril de 2011

Poetas

Quando ela se sentia triste, ficava grudada na parede da sala, num canto, olhando o dia passar. Era difícil dizer com precisão o que ela realmente transmitia com aquele gesto tão singular. Não sei como explicar direito. Imaginem a cena e me ajudem a decifrar. Confesso que aquele ‘criptograma’ se tornou meu passatempo durante anos.

Ela não era muito alta. Tinha cabelos louros, cacheados. Lembravam as cenas de anjo que costumamos ver por aí. Gostava do cabelo dela, mas o olho era o que mais me atraía. Quando tento descrever aquele olhar, bato de frente com a dúvida, a incerteza. Tinha medo do olhar e até hoje desconfio que ele era a chave para resolver minha charada.

As cores mesclavam conforme o dia. Na verdade, não sei dizer ao certo se tinha algo a ver com o humor ou com a luz solar, ou com os dois. Talvez ela mesma pudesse escolher. Ou era o meu próprio olhar que decidia. Azuis, verdes, castanhos. Só sei que eram lindos e atraentes.

Em meio a tanta beleza, era lá que ela se escondia. Disso eu tinha certeza. Com o tempo descobri que é assim que fazem os poetas, eles se escondem por entre suas mais distantes e profundas marcas. Mais do que isso, eles estão disfarçados em toda parte, do olhar da bela moça ao mendigo caído ao chão. Poetas, atores, inventores, mágicos. Mágicos da arte de unir palavras.

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