quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Que tal o mar

   Depois de passar um tempo fechado em um quarto coberto de livros e compromissos, não podia deixar de falar de algo tão marcante, tão verdadeiramente profundo em minha vida, de algo que me faz lembrar as emoções, as tristezas, as dores do passado e jamais o tempo presente.

   Por que será que o mar me faz viajar em pensamentos abstratos? Por que será que ele tira meus pés do chão e me leva para tão longe? Há alguma explicação científica? Isso também acontece com você?  

   Bom, seja lá qual for o motivo, fico aqui a interrogar minha própria mente sobre os caminhos pelos quais passei durante o tempo em que o mar me guiava. Não posso dizer ao certo se era apenas um sonho ou se era verdade. Aquele cheiro de protetor solar, de pele queimando, o barulho intrigante de apitos e o choro de crianças. Tudo isso desaparecia ao som das ondas do mar quebrando por entre as rochas. Eu não precisava sequer abrir meus olhos. Eu podia sentir aquela beleza me tocando.  

   Ó mar! Queria que fosses minha amante. Mulher do tipo que toca o coração e nunca se afasta. Aquela que dorme grudada, que embeleza a alma e que afasta a solidão.

domingo, 16 de janeiro de 2011

O arco-íris

   Um homem velho, de pele escura e barba comprida andava por entre os túmulos sombrios no crepúsculo daquela tarde. Ah! Aquela tarde, nunca ei de esquecê-la. Em meio ao choro de seres inconsolados, o único barulho do qual me lembro é o do caixão invadindo aquele espaço estreito e insuportável do túmulo. Mas aquele senhor me chamou a atenção. Ele parecia não ter direção, não ter para quem orar ou motivo para estar ali. Ao longe, procurei não causar impressão enquanto o observava. Ele podia ser o coveiro, o jardineiro, sei lá. Aquela situação lúgubre, que queimava o mais puro sentimento dos mortais, parecia não o atingir.

   Sem causar pânico ou constrangimento à minha família, dei um olhar de consolo a minha mãe e retirei-me. Enquanto admirava a beleza do sol por entre as nuvens que antes haviam lançado uma bomba de água à terra, senti que alguém se aproximava. Era aquele senhor. Ele sentou ao meu lado e tentou mirar o mesmo ponto que encantava meu olhar. O senhor falou baixinho, quase a sussurrar em meu ouvido:

   – Nossos olhos mentem. Aposto que você está procurando o início e o fim do arco-íris. Não há início, nem fim. O que importa é o sentimento que ele nos revela. Para isso, basta crer que ele existe.
   
   Sem entender muito as palavras do velho sábio e curiosa para descobrir de onde vinha tamanho conhecimento e o que ele fazia ali, encorajei-me a abrir a boca. Antes, porém, que pudesse formular alguma pergunta, o senhor olhou para mim e disse:

   – Não digas nada, sei que agora é confuso para você. Apenas reflita.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O medo das chuvas

   Não é de hoje que o caos se manifesta nos estados da região sudeste brasileira. O poder da água, que antes chegava como alívio para o calor intenso do verão, se transforma em medo e destruição. E agora José, o que fazer?

   Estava aqui a imaginar o que faria se toda essa catástrofe tomasse conta de minha vida. E o pior, não me desse tempo de pensar, de cogitar o que fazer, para onde correr, a quem pedir auxílio. Desistir? Talvez eu desistisse mesmo.

   Nobres daqueles moradores, que ao invés de se deixar levar pelas forças da água saíram às ruas e lutaram pela vida. E depois dizem que a nação brasileira não tem mais cara para pegar bandeiras e protestar. E o que está acontecendo hoje? Não é uma forma de protesto navegar na lama em busca de sobreviventes, como se fossem herois predestinados a salvar vidas?

   Talvez as pessoas não tenham mais energia para lutar contra a covardia de governantes corruptos, mas elas ainda têm coração para batalhar. A causa mudou. Agora a luta se intensifica pelo bem mínino e mais precioso de todos – a vida. 

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Os frios do vestibular

   A escolha do futuro, uma vida inteira debruçada sobre os livros, o temor de não dar certo, a agudez da felicidade ao encontrar o próprio nome em meio a um emaranhado de letras. São apenas alguns sentimentos que se fazem presentes na vida de um jovem. E quem disse que somente esses se preocupam com vestibular?
   
   Não estou querendo contar pontos àqueles que correm atrás de seus sonhos mesmo quando a idade talvez não os acompanhe mais. Refiro-me àqueles que sofrem calados, que temem perder para sempre o bem tão amado. Sim, esses mesmos. Os pais; amigos de infância; os que não o são de infância, mas sim puramente de coração; as paixões; os amantes e as amantes; os que se orgulham ao ter o nome do herdeiro estampado na porta de casa; os que simplesmente torcem pelo melhor desfecho seja ele qual for.
   
   Sinto uma força enorme invadindo meu peito e tomando conta de meu coração. E agora, para quem devo eu torcer?
   
   Devo torcer pela vertigem que alivia minha alma ao ter certeza de quem terei ao meu lado para sempre ou devo orar pela alegria que encheria de paz e felicidade o rosto de um amado? Por que não posso simplesmente torcer pela vitória? Por que preciso perder para ganhar, ou ganhar para perder?
   
   Qual seria o mérito final? Dois corações juntos de nada valem se um deles já não bater alegremente pelas façanhas da vida. E de nada adianta também dois corações distantes, em que os fios que os uniam anteriormente já não conseguem entrelaçar um ao outro. Nestes momentos, e só nestes momentos, acredito que o destino é uma união de esforço e sorte.    

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O nascimento de um blog

   Era um dia cinzento e triste, mas não daqueles em que nuvens espessas impedem a beleza dos raios de sol. Não falo disso. O dia era escuro em mim, de uma profundeza incrível e assustadora. Talvez fosse a solidão, refúgio da alma e do espírito. Não tenho certeza se a era, mas a sentia como se fosse. Imóvel, com os olhos vidrados na parede superior do quarto de dormir, perguntava a mim mesma qual era o sentido da existência. Há dias que nem o mais sábio dos homens sabe a esta pergunta responder.

   Decidi ter um filho. Quem sabe com ele pudesse dividir minhas tristezas e alegrias. Mas ele não era um bebê igual aos outros, e cá nasceu então meu filhote virtual. A este belo menino, devo a graça do tempo que ele despende a me amparar. E a você, leitor, só tenho a dizer um seja bem-vindo.