domingo, 16 de janeiro de 2011

O arco-íris

   Um homem velho, de pele escura e barba comprida andava por entre os túmulos sombrios no crepúsculo daquela tarde. Ah! Aquela tarde, nunca ei de esquecê-la. Em meio ao choro de seres inconsolados, o único barulho do qual me lembro é o do caixão invadindo aquele espaço estreito e insuportável do túmulo. Mas aquele senhor me chamou a atenção. Ele parecia não ter direção, não ter para quem orar ou motivo para estar ali. Ao longe, procurei não causar impressão enquanto o observava. Ele podia ser o coveiro, o jardineiro, sei lá. Aquela situação lúgubre, que queimava o mais puro sentimento dos mortais, parecia não o atingir.

   Sem causar pânico ou constrangimento à minha família, dei um olhar de consolo a minha mãe e retirei-me. Enquanto admirava a beleza do sol por entre as nuvens que antes haviam lançado uma bomba de água à terra, senti que alguém se aproximava. Era aquele senhor. Ele sentou ao meu lado e tentou mirar o mesmo ponto que encantava meu olhar. O senhor falou baixinho, quase a sussurrar em meu ouvido:

   – Nossos olhos mentem. Aposto que você está procurando o início e o fim do arco-íris. Não há início, nem fim. O que importa é o sentimento que ele nos revela. Para isso, basta crer que ele existe.
   
   Sem entender muito as palavras do velho sábio e curiosa para descobrir de onde vinha tamanho conhecimento e o que ele fazia ali, encorajei-me a abrir a boca. Antes, porém, que pudesse formular alguma pergunta, o senhor olhou para mim e disse:

   – Não digas nada, sei que agora é confuso para você. Apenas reflita.

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