Ela sentava todo dia no mesmo banco. Era praxe. Costume sofisticado de quem há anos depende dele para tudo. Dia frio, vento forte batendo no rosto. Ela vestiu o casaco e assim que desceu as escadas já saiu tirando o cachecol e se desfazendo toda, como novelo de lã. Esperava o trem passar.
Aquele dia tinha cara de multidão. Dito e feito. Ela sabia. Tinha até contado para o vendedor da feira que encontraria problemas para embarcar. Os dias frios e cinzas, resumia ela, são os mais feios.
Ouviu o barulho, o vento, e as portas abrindo. Na hora.
Saiu em disparada. Pôde até mesmo ouvir o respiro de alívio ao ter se acomodado no posto. As portas quase fechavam quando um senhor entrou. Com um ramalhete de rosas vermelhas e uma bengala, ele sofria um pouco para manter o equilíbrio.
Pobre senhor, pensou. E cedeu o lugar.
Quase o momento de partir, mais três paradas e um lugar vazio do lado daquele mesmo senhor. Ele olhou cabisbaixo. Ela aceitou o convite. Tinha idade para ser sua neta, quiçá bisneta. Sem nenhuma palavra, ele tirou uma das rosas do ramalhete e, com um sorriso, entregou à jovem.
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